#06 - Sonhar: como pode ser diferente?
Como eu posso trazer isso do campo das ideias para a realidade? Tempo de leitura: 9 minutos.
Desde criança eu carrego uma verdade muito grande dentro de mim: ‘‘Dá pra fazer. Dá pra tornar isso realidade!’’ Seja isso um sonho, um devaneio ou algo a princípio muito mirabolante. Mas com as pessoas certas e as ferramentas adequadas, eu sempre tive muita fé que é possível fazer acontecer.
E não é uma fé religiosa. Não! É uma fé no próximo: ‘‘ — Não é possível, que a gente não consiga reunir pessoas interessadas em torno desse objetivo em comum e viabilize os recursos para pôr em prática essa ideia.’’
Eu não sei como esse pensamento chegou até mim. Talvez por eu sempre ter tido amigos muito distintos desde a infância e via como eles desenvolviam suas vidas normalmente, por meio de caminhos diferentes dos meus, ou talvez isso tenha nascido comigo, na forma particular como enxergo o mundo — eu sou designer de coração e de formação e sempre vi tudo de uma maneira muito gráfica e sistemática, buscando conexões entre o imaginário e o possível.
E isso me deixa curiosa: Você já se perguntou por que tantos sonhos ficam apenas na nossa mente, enquanto outros se tornam realidade? Quantos sonhos você já deixou de lado, achando que eram impossíveis? E se você acreditasse, de verdade, que poderia realizá-los?
O que transforma sonho em realidade?
Outro dia, assisti a uma reportagem na TV sobre Santos Dumont e sua trajetória na aviação. Como o avião que ficou eternizado na história é o 14 Bis, isso significa que ele é o décimo quinto modelo testado e que os quatorze anteriores foram balões, ensaios de tipos de dirigíveis, que possibilitaram aprendizados e desenvolvimento até chegar em seu modelo bem sucedido. Além de persistente, pense, caro leitor, no que significava naquela época, sem nenhum precedente, ousar tirar um avião do chão. (Sou brasileira e não vou considerar os irmãos estadunidenses Wilbur e Orville Wright nessa conversa).
Era um boeing de toneladas como conhecemos hoje? Não. Mas era o suficiente para tirar um homem adulto do chão e planar. Depois de descobrir uma forma de fazer isso, ficou mais fácil evoluir para o resultado que temos e usamos nos dias de hoje. Sempre em desenvolvimento, Dumont também projetou o relógio de pulso, que Cartier desenvolveu, para que ele pudesse cronometrar o tempo com facilidade enquanto pilotava. Esse objeto, a princípio técnico foi se tornando parte do nosso cotidiano, adquirindo camadas e hoje é difícil imaginar a vida sem ele. Ou do chuveiro com água quente, que ele desenvolveu com ineditismo para sua casa em Petrópolis. Após o feito do 14 Bis, ele continuou desenvolvendo e aprimorando modelos de aviões (biplano, monoplano, hidroplano), como podemos conhecer mais aqui. Provando que não era apenas uma vontade passageira ou um capricho de um jovem abastado.
Fiquei muito comovida em como ele acreditou, e isso me motivou a escrever esse texto. Passei dias refletindo sobre o poder do sonho. Do objetivo, da crença, da fé… Sobre o que temos sonhado? Em que caminhos estamos perseverando?
Imagine o que passava pela cabeça de Dumont enquanto desenvolvia seus primeiros 14 modelos…Você continuaria tentando?
Já imaginou quantas pessoas devem ter chegado até ele para dizer que ele estava TOTALMENTE drogado, maluco, fora de si, sonhando com o impossível? Eu diria que muitas. E vencer o preconceito e perseverar na sua crença é o primeiro passo para chegar onde ninguém chegou. É acreditar sem ver, que os seus planos e projetos podem sim se tornar tangíveis, materializados.
Quando a arte desafia a realidade
A história de Dumont me fez lembrar de outra forma de sonhar: a arte. Quando na escola aprendi sobre história da arte, alguns pontos começaram a se acender na minha mente. Picasso, Monet, Basquiat…. Não é fantástico que todos eles compartilharam conosco como eles enxergavam o mundo? É o próprio precursor do efeito filtro do Instagram em modo real e offline!
Em "Girl Before a Mirror" (1932), Picasso brinca com perspectivas e distorções, criando uma realidade expandida, onde uma mulher se olha no espelho e seu reflexo aparece totalmente transformado, demonstrando diferentes facetas da mesma pessoa.
Nessa outra obra, conseguimos ver cada pincelada de Monet, em um exemplo clássico do expressionismo, a tela nos transporta para um mundo quase onírico.
Ou talvez, como figuras humanas, sejamos apenas a caveira que Basquiat retratou com cores vibrantes e traços objetivos — um lembrete da impermanência e da energia crua da vida.
São apenas diferentes formas de enxergar e expressar. Cada artista, assim como Dumont, ousou desafiar o que era conhecido. Cada um em suas respectivas épocas, também devem ter sido recebidos com olhares de desconfiança e desaprovação, pois estavam mostrando algo jamais visto anteriormente. E nós como humanos, tendemos a rejeitar o novo, não gostamos de mudança. Gostamos do que nos é familiar, porque nos parece seguro. Mas e se abrirmos espaço para ver o mundo de maneira diferente?
E o mais surpreendente disso tudo é que todos estão certos em suas perspectivas. Um ponto de vista, sempre deixará outros pontos de fora e principalmente um ponto cego. Não vamos adentrar na análise profunda das obras e reconheço que elas pertencem a períodos diferentes na linha do tempo. Isso não é importante para o passeio que quero te levar leitor. O interessante desses exemplos, é que em nenhum deles existe nenhuma expressão de superioridade ou inferioridade. Cada um pode ser reconhecido com suas qualidades e defeitos, mas sem noções de hierarquia.
Quando você olha para uma obra de arte, o que vê? Será que é a mesma coisa que eu vejo? Como essas pessoas poderiam imaginar combinações e formas de fazer tão diferentes? Eu lhes digo: porque é possível fazer acontecer.
Enquanto Dumont acreditava em tirar o homem do chão, pintores como Picasso, Monet e Basquiat desafiavam a forma de ver e representar o mundo. Em ambos os casos, o que estavam criando era algo até então impensável.
Emicida canta, em Levanta e Anda,
‘‘Irmão, você não percebeu
Que você é o único representante
Do seu sonho na face da terra?
Se isso não fizer você correr, chapa
Eu não sei o que vai.’’
Serve como um chacoalhão para agir? Serve!!! Mas será que seu sonho é apenas seu mesmo? Eu acredito que é possível encontrar as pessoas no mundo que têm um sonho em comum. Como seria se unir a elas e repartir a caminhada? Nós como designers focamos nossos esforços diariamente para responder a essa pergunta: Como pode ser diferente? Como eu posso trazer isso do campo das ideias para a realidade?
Assim como temos a oportunidade de levar adiante esse pensamento da diversidade cultural para ampliar a forma como lidamos com as coisas, não existe somente uma maneira de fazer uma coisa. Existem diversas! É fato que algumas são mais eficientes do que outras, mas reconhecer e aceitar que existem diferentes caminhos para chegar em um resultado, nos liberta para encontrar e estabelecer um relacionamento mais saudável com a nossa criatividade e auto-cobrança. Nos prepara para ser resilientes e firmes diante de provocações.
O salto para o desconhecido
Muito antes de ver essa reportagem sobre Dumont e seus modelos de voo, encontrei esse texto e me senti verdadeiramente transformada depois de ler esse trecho escrito pela Adriana Drulla, em sua coluna na revista Vida Simples:
Duas escolhas possíveis
Quando você está paramentado no topo da montanha, desejando voar, você tem duas escolhas. A primeira delas é o salto. Se você saltar, certamente vai se esfolar e vai ser arremessado em direções indesejadas de tempos em tempos. Por outro lado, saltando você também vai aperfeiçoar a sua técnica, terá a chance de fazer bons voos, plainar (sic) e aproveitar a vista. A segunda escolha é permanecer estacionado na zona de conforto. Mas, saiba que parado você nunca colherá os frutos que deseja. Ou seja, por mais que este lugar te pareça seguro, a verdade é que seus pés estão agarrados a um solo em erosão. Ao ficar parado, você está caindo também, embora lentamente e sem a possibilidade de voar.
E sonho é apenas uma ilusão sem movimento. Uma miragem prestes a se esfacelar no ar. Sonho organizado vira realidade quando a gente bota no papel, levanta possibilidades, rascunha um protótipo, vai em busca de materiais, se esforça, salta, se debate um pouco, encontra o outro, reparte ideias, une forças, mostra o que estamos vendo e olha o desafio pelo ângulo de quem uniu forças conosco.
Sonhar junto é mais poderoso
E por que isso é importante, caro leitor? Porque como nos lembra Paula Englert, CEO da Box1824, ‘‘O futuro não está sendo sonhado, está sendo aceito como distópico’’.
Porque pessoas fazem empresas e marcas para outras pessoas. Lembra quando eu disse lá no meu primeiro texto que desenhar um mundo era uma das coisas que me fascinavam? Então… é chegada a hora de acelerar com esses rascunhos e comunicar. E comunicar às pessoas que é o momento de agir. E para agir, precisamos estar completamente comprometidos com nossos sonhos e nossa crença de que é possível fazer acontecer. É preciso coletividade, para que as pessoas estejam completamente embebidas em um líquido esperançoso capaz de fazê-las inspirar outras pessoas a se moverem realizando um trabalho, entendendo por trabalho uma ação concreta no mundo real. Será na transmissão dessa capacidade de acreditar que através do micro atingiremos o macro. Já pensou como seria se unir a outros que acreditam na mesma ideia?
Se queremos um futuro diferente, precisamos desenhá-lo juntos. Então eu te pergunto: Com o que você vai sonhar hoje à noite? E para quem você vai contar esse sonho?
Confete: coisas boas a gente espalha!
Um texto: recomendo a leitura completa da coluna da Adriana Drulla, na revista Vida Simples. Embora a gente saiba de certas coisas, às vezes é lendo com certas palavras e exemplos específicos que a gente encontra o gatilho necessário para nos mover.
Uma playlist: além de ser hater de trailler de filme, (que entregam todo o sabor em 1 minuto, que eu gostaria de desfrutar em doses homeopáticas), eu também sou hater de remix. Geralmente eu não gosto, e por vezes acho uma ofensa a obra original. Mas essa pequena playlist, reune o suprassumo dos remixes/versões. Vem experimentar! (Sugiro dar play sem ler os nomes) P.S: Licença poética para a última música que é original, mas quando ela foi adicionada depois da intro Last Dance para Aftersun, eu não pude deixar de notar a magnitude da combinação.
Um drink: seja um café, um suco de açaí ou um vinho, convide seus companheiros para uma bebida. Um momento de descontração e um tempo de qualidade, trocando ideias pode ser um ótimo início para despertar sonhos. Confia!
Até a próxima! 🥂
Referências:
☝🏻Este texto foi criado com base nas referências listadas acima. Ele também foi co-criado com a ajuda de IA e olhar humano para revisar o encadeamento das ideias e revisar gramática e ortografia.